Trate-me Leão

Por: Eduardo Nacimento Júnior




Ubu Rei – 1975





Em uma festa qualquer, em algum lugar da cidade do Rio de Janeiro estão Regina e seu pai Geraldo Casé. Ambos estão entediados e percebem que uma figura “chata” acaba de chegar. Geraldo olha para Regina e diz:
- Olha, o Asdrúbal trouxe o trombone!
Estava dado o código e, pai e filha, tratavam de sair dali rapidinho. O que Geraldo não percebera é que acabava de batizar um dos mais influentes grupos teatrais do Brasil.
Surgia, em 1972, uma trupe de jovens influenciados pelo humor do grupo britânico Monty Python e liderados por Regina Casé, Luís Fernando Guimarães e Hamilton Pereira Vaz. O Asdrúbal Trouxe o Trombone marcou a forma de se fazer comédia num momento do país em que o humor andava esquecido.
A peça de estreia, O Inspetor Geral, de Nikolai Gogol foi encenada em 1974 e chamou a atenção devido a vitalidade mostrado tanto pelos atores, quanto pelos diretores. A encenação mostrava uma nova visão de mundo, de um grupo de jovens que começava a ingressar na vida adulta.
Em 1975, ainda interpretando textos clássicos, o Asdrúbal monta a peça Ubu Rei de Alfred Jarry. Interpretam vestidos de palhaços, com maquiagem marcante e adotam a linguagem circense, mostrando mais uma vez vitalidade e personalidade.
O auge do grupo se dá com Trate-me Leão, abandonando a interpretação de textos de outros autores e passando o próprio grupo a também criar. Esta peça entra para os anais do teatro brasileiro por se tratar de um fenômeno estético, já que grupo passa a falar de si mesmo, da sua geração, os “bicho-grilos” e sua linguagem, preocupações e problemas.
Os espetáculos seguintes, Aquela Coisa Toda (1980) e A Farra da Terra (1983) oferecem ao público a estrutura aberta, em que os atores mostram os mecanismos de ilusão teatral.
A inovação de Asdrúbal Trouxe o Trombone não é a forma como cria a “farsa”, mas sim como mostra o real, uma realidade. O ator é o eixo central da criação e cabe ao diretor selecionar e costurar os elementos a fim de produzir a concisão. O grupo utiliza o palco nu, poucos objetos cênicos o que acaba por valorizar o ser humano que interpreta. O Asdrúbal não quer “mega atores” ou “super cantores”. Quer atores que cantarolem. Deve ser antes um experimentador, não um especialista. Deve haver afeto, não o rigor técnico com o intuito de se mostrar o “belo”.
Regina Casé, uma das fundadoras, certa vez afirmou: "Asdrúbal entrou para a história por olhar para o próprio umbigo. A expressão veio, porque a crítica achava que a gente só olhava para o próprio umbigo, mas, nas viagens, descobrimos que éramos o umbigo do mundo. Parecia que a peça 'Trate-me Leão' era urgente, precisavam daquilo. Descobrimos que o que estávamos falando era o que todos da nossa idade queriam falar, até no interior, com caras de enxada na platéia.”
Considerado “alienado” pela esquerda e “subversivo” pela direita, o Asdrúbal veio para confundir. Seus fundadores não pensavam em ser “cabeça”, mas sim levar o humor da forma como eles próprios o viam. Efêmero como qualquer vanguarda, o grupo acabou basicamente porque seus integrantes “cresceram”. Luís Fernando Guimarães diz, sobre o fim: "O grupo acabou como tudo acaba, cada um quis outras coisas, outras alegrias. Mas é unido até hoje, até no jeito de representar".
Além de seus fundadores, o Asdrúbal Trouxe o Trombone trouxe a mídia outros atores hoje muito conhecidos: Patrícia Travassos, Evandro Mesquita, Perfeito Fortuna, Nina de Pádua e Gilda Guilhon.







Cena da peça Trate-me Leão (1978). Da esquerda para a direita: Luiz Fernando Guimarães (Conde), Nina de Pádua (Louise), Regina Casé (Vanessa), José Paulo Pessoa (Caique), Patrícia Travassos (Maria), Perfeito Fortuna (Paulo) e Evandro Mesquita (Matraca)










 

8 Na Lata!:

edunascjr disse...

podiam ter formatado meu texto, pelo menos...

Laio Brandão disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Laio Brandão disse...
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Laio Brandão disse...

AUHSEIUAHESU
Ah, mulecão! Realmente...confesso que o arquivo que você me passou estava mais aprazível, de qualquer forma, eu li aqui de novo!

"(...)Considerado “alienado” pela esquerda e “subversivo” pela direita, o Asdrúbal veio para confundi(...)"

Juro que no meio do texto isso já paraiva na minha cabeça, logo quando li que o grupo não se apegava a parâmetros, a estilos etc e tal, sabia que a intelligentsia não gostaria nada disso, pelo descrédito intelectual, já a direita...ah, nem precisa explicar.
Abrá, hasta.

PS: desisto de html :B

edunascjr disse...

Pois é, foi uma pena, pq vc viu q eu tinha enviado as fotos grandes, pra melhor visualizacao e o texto todo formatado...

É, o Asdrubal veio para, apenas, mostrar um monte de atores atuando...

Luan disse...

Muito bom o texto Sudô. Eu já tinha ouvido falar alguma coisa sobre o "Asdrúbal" com uma amiga minha que é atriz, mas nunca tinha lido nada.

Ah, acredito que a fortmatação do texto não alterou a qualidade da postagem não.

edunascjr disse...

Valeu pelo comentário Luan!

Gao disse...

Fino oi texto...
Teve as manhas sudo..

Abrass


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